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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Voluntário deve ter consciência de sua importância na organização

foto - Eduardo Anizelli/Folhapress



Valdir Cimino,
da Associação Viva e Deixe Viver, com crianças na Santa Casa de Misericórida de São Paulo.






     Apesar de ser o primeiro passo para ajudar o próximo, ter apenas boa vontade não basta para ser um voluntário. Para realizar um trabalho social eficiente e que gere resultados a longo prazo são necessários comprometimento, engajamento e respeito pela organização. 

     Segundo Maria Elena Pereira Johannpeter, fundadora e presidente da Parceiros Voluntários, ONG do Rio Grande do Sul que tem como missão disseminar a cultura do voluntariado organizado, é preciso, antes de tudo, diferenciar "voluntariado" de "voluntarismo". "O trabalho voluntário deve ser estruturado para ter um bom resultado. A organização precisa saber quando vai poder contar com aquela pessoa que terá dia e hora certa para comparecer. No voluntarismo, a pessoa vai quando quer, onde quiser e não tem esse comprometimento", explica

     Maria Elena, que recebeu hoje em Porto Alegre (RS) a Medalha do Mérito da Farroupilha pelo seu trabalho na área social, diz que é importante fazer uma reunião de conscientização com quem expressa seu desejo de ser voluntário para que essa pessoa saiba o significado desse trabalho e o compromisso que assumirá uma vez que abraçar a causa social

    "O voluntário tem a ilusão de que ele vai chegar na organização e ela vai recebê-lo de braços abertos e tudo o que ele propuser vai ser aceito. Os projetos sociais são muito antigos. Cada organização tem uma estrutura e uma administração internas nas quais é o voluntário quem deverá se enquadrar. Deve haver um respeito mútuo entre as partes", complementa Maria Elena.

Seleção natural

   Além de uma reunião de conscientização, algumas organizações realizam processos seletivos para a escolha de seus voluntários. Para Valdir Cimino, fundador da Associação Viva e Deixe Viver, ONG de contadores de histórias, com sede em São Paulo, esse procedimento é necessário para que a pessoa perceba se está no lugar certo.

     O processo seletivo da Viva e Deixe Viver, por exemplo, dura de 4 a 9 meses. Dos cerca de 650 inscritos, 150 chegam ao final do processo, e 35% deles desistem após os seis primeiros meses.

    "O voluntário vai passar 16 horas por mês desenvolvendo ações que objetivam melhorar a qualidade de vida da criança e, em consequência, da família. Ele não pode chegar para contar história e dar um presentinho para a criança, seja uma bala, seja um pijaminha. Aí, acaba a magia do livro.

     É um trabalho de interdependência com os médicos, as enfermeiras, as assistentes sociais e as nutricionistas", explica Cimino.

     Eugenio Scannavino Netto, fundador do Projeto Saúde & Alegria, que atua na Amazônia promovendo processos participativos de desenvolvimento comunitário integrado e sustentável, conta que eles trabalham com voluntários enviados por instituições parceiras, principalmente para projetos de longo prazo (de 6 meses a 2 anos) para evitar o despreparo e a falta de ligação com o trabalho da ONG.
    
      "Para os prazos mais curtos, normalmente aceitamos voluntários da área de saúde (médicos, enfermeiros e dentistas) nas rodadas dos Barcos de Saúde Fluvial, e também com arte educadores (teatro e circo) e comunicadores (rádio, TV, jornal, inclusão digital) que tenham propostas especificas de treinamentos de agentes locais e estejam enquadrados em metas bem definidas do nosso plano de ação", afirma Netto.

O melhor de cada um

     "A interlocução dentro da instituição é fundamental. Não basta vir, fazer seu trabalho e ir embora", afirma Carla Lam, do Projeto Quixote, que atua com crianças em situação de risco, em São Paulo.

      Para ela, é importante que a instituição também tenha estrutura para receber esse voluntário e que essa pessoa contribua com um trabalho que já desempenha, até para que fique mais motivada.

       O executivo Antônio Ornelas é um exemplo. Por mais de um ano, ele realizou um trabalho de treinamento para as lideranças do Projeto Quixote e também os ensinou a fazer a gestão de projetos.

       "Eu tinha uma empresa de coaching, na época, e percebi que fazer esse trabalho era uma maneira de ajudar a essa ONG de quem eu comprava brindes sustentáveis."

       De acordo com Jhonatas Mendonça, da Turma do Bem, organização que conta com o voluntariado de dentistas, quando as pessoas utilizam as suas competências para mudar a realidade, isso faz com que elas efetivamente exerçam a sua cidadania, sendo uma força de trabalho importante para atuar nos gargalos das políticas públicas.

MARIA CAROLINA NOMURA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA




 

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